O que é ser um terapeuta nos tempos atuais? Até onde pode se estender a nossa prática? Como atuar para contribuir com uma sociedade melhor? Ao lançarmos o olhar para além das paredes do consultório e estendê-lo para a comunidade identificamos pessoas, demandas, espaços físicos e o resultado foi a Terapia na Praça.
Diante desta possibilidade de ação se deu o nosso encontro com o Clube - C.P.D.A.R./Monte Sião. Fundado em maio de 2016 a Associação Centro Paradesporto de Alto Rendimento Monte Sião é um projeto social que tem como finalidade atender pessoas em condição de deficiência física, visual, intelectual, surdos e transplantados. Foi criado para apoiar os paratletas nas atividades esportivas na modalidade de atletismo paraolímpico. Tem como objetivo preparar o paratleta para competições nacionais e internacionais e também trabalhar o processo de inclusão social, preparando o cidadão para a conquista de seus direitos.
Estudos realizados na área esportiva mostram que o esporte tem papel importante no processo de reabilitação, superação de limites, promoção da saúde, socialização e lazer. De acordo com o CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro - o Atletismo Paraolímpico é uma modalidade que faz parte dos Jogos Paraolímpicos desde 1960. Podem participar das provas dessa modalidade pessoas amputadas, atletas em cadeira de rodas (cadeirantes), pessoas com deficiência visual e paralisia cerebral.
A Psicologia do Esporte exerce grande importância junto aos paratletas, pois as consequências da deficiência ou das incapacidades podem elevar a ansiedade tanto diante de situações de vida diária como das próprias exigências do esporte.
A Terapia Cognitivo Comportamental - TCC - auxilia pessoas que enfrentam diferentes adversidades nas áreas da saúde, educação, organizacional, esportes entre outras. Pode ser descrita como um vasto conjunto de abordagens teóricas e intervenções que são utilizadas dentro de uma lógica comum dos modelos comportamental e cognitivo. A base do modelo cognitivo é a ideia de que os pensamentos irão influenciar diretamente a maneira de se comportar e sentir. Portanto, uma distorção na forma de perceber uma situação poderia influenciar o humor e o comportamento a ponto de deixá-los disfuncionais.
Nesse cenário, a TCC pode ser uma importante fonte de desenvolvimento do potencial dos paratletas, uma vez que estes buscam, além do equilíbrio mental para disputar uma competição, a superação dos limites impostos pela própria deficiência.
A Terapia na Praça iniciou em março de 2016 até setembro de 2017. Teve como objetivo atuar na reestruturação cognitiva e na formulação de maneiras de enfrentamento mais adaptativas e racionais, contrapondo a percepção anterior. Configurou-se na modalidade grupal através de encontros semanais, com os paratletas em ambiente aberto, na Praça Ceper do BNH 1º Plano. E com a comissão técnica através de encontros quinzenais no consultório ou na sede.
O processo se iniciou com a priorização do vínculo terapêutico e à atenção em desenvolver uma relação colaborativa com cada paratleta. O contrato terapêutico (setting) foi elaborado e firmado, incluindo: objetivo, tipo de grupo, local, horário, frequência, duração dos atendimentos, sigilo, etc. Paralelamente cada paratleta foi avaliado através de uma entrevista semiestruturada, contribuindo na elaboração da conceitualização das dificuldades apresentadas pelo grupo. Em seguida o modelo cognitivo comportamental foi explicado, ou seja, como os pensamentos influenciam as emoções e comportamentos
- Michael Jordan
1) Psicoeducação: Explicar o modelo cognitivo comportamental e tópicos específicos, recomendar leituras e vídeos e indicar tarefas cognitivas e comportamentais.
2) Relaxamento muscular progressivo: Ensinar a discriminar tensão muscular de relaxamento, a soltar progressivamente todos os músculos, a respirar suavemente, a perceber o peso de cada parte do corpo e a visualizar imagens tranquilizadoras, tornando o relaxamento possível.
3) Respiração diafragmática: Ensinar a respiração a partir do diafragma, inspirando pela narina e expirando pela boca através de movimentos pausados usando os músculos do abdômen, proporcionando a redução do estresse e promoção do bem-estar biopsicossocial.
4) Dessensibilização sistemática: Conduzir a exposição gradual de situações próximas a situação ansiogênica, do nível de dificuldade mais fácil até o nível mais difícil.
5) Reestruturação cognitiva: Auxiliar na identificação de pensamentos distorcidos e verificação das evidências dessas interpretações através do treino do registro de pensamento disfuncional (RPD).
6) Treinamento em resolução de problemas: Promover mudança comportamental desenvolvendo habilidades essenciais para resolução de problemas.
A partir do trabalho de revisão bibliográfica, foi possível identificarmos um baixo investimento acadêmico em pesquisas na área. Encontra-se a necessidade de estudos mais aprofundados sobre as especificidades do paratleta de alto rendimento, principalmente dentro da psicologia do esporte. Baseado nos relatos dos paratletas, a Terapia na Praça apresentou resultados favoráveis possibilitando a correção das distorções cognitivas tanto em relação a deficiência, quanto aos treinos e competições; como também o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento mais adaptativas e funcionais. Isto confirmou que o espaço da terapia é em qualquer lugar, desde que existam pessoas e demandas. A Terapia na Praça traduz o desejo de expandir o nosso trabalho e estendê-lo aos mais diversos espaços e contextos.
Lilian Cecília Rocha Izidoro - CRP: 14/01744-8
Especialista do ITCC- Instituto de Terapia Cognitivo-Comportamental - Campo Grande MS
Isabela Rocha Izidoro - CRP: 14/07081-8
Mestranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG-Psi) pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
ANDRADE, A.; BRANDT, R. A psicologia do esporte aplicada a atletas portadores de necessidades especiais: reflexões epistemológicas, filosóficas e práticas. Revista Digital, Buenos Aires, 2008.
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WOLFF, A. A. et al. Pensamento Campeão: melhorando o desempenho esportivo por meio da preparação mental. Rio de Janeiro: Ed. Cognitiva, 2015.
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